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Viúva de homem assassinado por seguranças do Carrefour nega R$ 1 milhão em oferta de indenização

Filhos, pai e irmã de vítima aceitaram proposta da empresa, mas defesa da viúva compara caso à indenização paga após morte de cachorro

Por G1 RS 03/04/2021 13h01 - Atualizado em 03/04/2021 14h02
Viúva de homem assassinado por seguranças do Carrefour nega R$ 1 milhão em oferta de indenização
João Alberto era preto e foi imobilizado e morto por seguranças de supermercado em novembro do ano passado - Foto: reprodução

Milena Borges Alves, a viúva de João Alberto Freitas, homem negro morto por seguranças do Carrefour no ano passado, recusou a oferta de indenização da empresa. O valor não foi divulgado pela empresa, mas o G1 apurou junto ao advogado de Milena que foi R$ 1 milhão.

Demais familiares, entre os filhos, o pai e a irmã de João, aceitaram a proposta oferecida e parte já teve a quantia depositada, diz a empresa.

O  crime aconteceu no estacionamento do Carrefour Passo D'Areia, em Porto Alegre, na noite de 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra. João Alberto tinha 46 anos. Os agressores foram presos e respondem por homicídio triplamente qualificado.

Ao G1, advogado de Milena, Carlos Alberto Barata Silva Neto comparou a oferta de R$ 1 milhão à quantia paga pelo Carrefour após a morte do cachorro Manchinha, agredido por um segurança em Osasco, em 2019. O valor pago pela empresa foi doado a um fundo para cuidados de animais.

"A gente não aceitou justamente por ser um comparativo muito grande com o cachorro, o Manchinha. Não tem como fazer uma comparação entre o Manchinha e o Beto. Então eles estão comparando um cachorro com um humano. Novamente o Carrefour está fazendo esse gesto", diz o defensor.

Segundo nota publicada pela empresa, Milena, através de seus advogados, vem insistindo em "valores não razoáveis e fora dos patamares juridsprudenciais". "O Carrefour vem negociando de maneira muito cooperativa para chegar a um acordo final". Leia a nota na íntegra abaixo.

O pai de João Alberto, João Batista Rodrigues Freitas, disse ao G1 que recebeu uma quantia "irrisória", que prefere não divulgar. "Eu acho que isso nem tinha que ter preço. Mas eu estava cansado [da situação], então meu advogado aconselhou a aceitar". O dinheiro já foi depositado.

A irmã de João, informa a empresa, também já recebeu o dinheiro. A filha e a neta do primeiro casamento, assim como a enteada, filha de Milena, também tiveram o valor depositado.

Os três filhos do segundo casamento aguardam homologação do Ministério Público do RS para o pagamento. Os valores ofertados também não foram divulgados.

A empresa ainda finaliza negociações com o MP para pagamento de indenização por danos morais coletivos, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que também estabelecerá compromissos e obrigações da empresa na luta contra o racismo.

Os seguranças acusados das agressões, Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, e quatro funcionários do supermercado, Adriana Alves Dutra, Paulo Francisco da Silva, Kleiton Silva Santos e Rafael Rezende, respondem por homicídio triplamente qualificado com dolo eventual (motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima). O MP incluiu ainda o racismo como forma da qualificação por motivo torpe.