Brasil

MP pediu prisão de padre Robson por suspeita de irregularidades na Afipe

Segundo promotoria, 'há vários anos', ele estaria se apropriando de recursos da Associação dos Filhos do Pai Eterno, a qual fundou e movimenta R$ 20 milhões por mês

Por G1 22/08/2020 13h01
MP pediu prisão de padre Robson por suspeita de irregularidades na Afipe
Padre Robson é reitor do Santuário Basílica de Trindade - Foto: Divulgação

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) pediu a prisão do padre Robson de Oliveira Pereira, reitor do Santuário Basílica de Trindade, no âmbito do processo que apura irregularidades na Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), da qual é presidente. No entanto, a Justiça negou a solicitação.

O corpo jurídico da Afipe informou que "não foi pego de surpresa" com a operação e que, no passado, "se colocou à disposição do Ministério Público". Salientou ainda que o padre Robson acompanhou toda a operação e que tudo segue em "extremo sigilo".

A Arquidiocese de Goiânia, responsável por administrar as paróquias e santuários de Trindade, informou que "está atenta ao trabalho do Ministério Público, espera que tudo seja apurado o mais breve possível e se coloca à disposição para colaborar com a Justiça".

A operação "Vendilhões" foi deflagrada pelo MP-GO, na manhã desta sexta-feira (21), para coletar documentos que auxiliem a investigação de diversos crimes supostamente praticados pela Afipe, incluindo lavagem do dinheiro que era doado à entidade para custear a construção do novo Santuário Basílica. Os promotores e autoridades policiais cumpriram 16 mandados de busca e apreensão em imóveis de Goiânia e Trindade, entre eles, em propriedades de luxo vinculadas ao padre Robson pelos promotores do MP.

Motivo do pedido de prisão

Em sua justificativa para pedir a detenção, o MP-GO afirmou que a prisão era necessária porque o padre, "há vários anos", estaria se apropriando de recursos da Afipe, bem como "promovendo a transferência de bens desta para terceiros". Além da prisão, os promotores pleitearam ainda que ele fosse afastado do cargo diretivo da associação e proibido de entrar nos imóveis da entidade.

A promotoria ressalta que o padre administra entidades que recebem mais de R$ 20 milhões mensais em doações de todo o Brasil e estaria usando os valores para beneficiar terceiros. Foi constatado que, nos últimos dez anos, a associação movimentou em suas contas mais de R$ 2 bilhões.

De acordo com a denúncia do MP, houve pagamentos indevidos de cerca de R$ 120 milhões nos últimos três anos, saindo das contas da Afipe para grupos de empresas e pessoas físicas. A investigação constatou que os gastos não tinham vínculo com questões religiosas, mas com outros negócios, como a compra de imóveis, propriedades rurais, cabeças de gado e emissoras de rádio.

Juíza indeferiu pedido

Porém, em seu despacho indeferindo o pedido, a juíza Placidina Pires, disse que o padre é "líder religioso, primário e de bons antecedentes criminais".

Ela ressaltou ainda que "a simples existência de indícios da prática de crimes de natureza grave" não são suficientes para determinar a prisão do religioso". Destacou ainda que na denúncia do MP, "não há informações concretas de que, em liberdade, o padre investigado destruirá provas ou intimidará testemunhas", não sendo necessária a prisão.

Pelos mesmos motivos, a magistrada também negou os pedidos de afastamento do cargo diretivo e da proibição de acesso do padre à Afipe. Porém, a juíza determinou o bloqueio de R$ 60 milhões em bens da entidade.

Crimes investigados:

Apropriação indébita;
Lavagem de dinheiro;
Falsificação de documentos;
Sonegação fiscal;
Associação criminosa;