Entretenimento

Renato Aragão: "Eu queria ter o meu programa, não estar no dos outros"

Nessa entrevista, o humorista mais famoso do Brasil conta que tem um novo filme para fazer e que não gostou da versão moderna dos Trapalhões

Por R7 10/07/2020 14h02
Renato Aragão: 'Eu queria ter o meu programa, não estar no dos outros'
Renato está cheio de projetos para fazer fora da Globo - Foto: FolhaPress

Não dá mesmo para passar batido quando alguém como Renato Aragão deixa a Globo. Ele foi funcionário do canal por mais de 40 anos e marcou gerações com seu trabalho, principalmente com Os Trapalhões. Esse fim de fase profissional para o comediante de 85 anos é, segundo ele próprio, o início de um outro momento na carreira. Com a oportunidade de trabalhar em novos lugares, Renato diz que tem muitas ideias de programas, filmes e escreve sem parar seus próximos projetos.

Conversei há alguns dias com ele, que falou um pouco sobre a saída da Globo, sobre o próximo longa-metragem para cinema, contou também que não gostou da nova versão dos Trapalhões e o que pretende fazer daqui para frente. Acompanhe:

SAÍDA DA GLOBO


Para falar sobre o fim de contrato com a Globo, Renato e sua mulher Lílian Taranto são muito diplomáticos e procuram mostrar que não há um fim de relacionamento com o canal, mas sim uma mudança nos termos de trabalho. “Eu não fui demitido, como estão falando. Eu não saí da Globo. Acabou o meu contrato. Foi um acordo e não houve renovação. Na verdade, eu fiquei na Globo, só que agora fazendo trabalhos pontuais e também posso aparecer em outras emissoras”, conta Renato.

Lilian procura ir pelo mesmo caminho: “Não tem como o Renato sair da Globo e nem a Globo sair do Renato. Ele vai trabalhar pontualmente. Mas agora ele está liberado para participar em programas de outros canais”.

Por falar em “trabalhos pontuais”, isso é o que o comediante vinha fazendo nos últimos anos no canal. Depois de A Turma do Didi, série regular que durou de 1998 a 2010, Renato fez alguns especiais, telefilmes e séries curtas na Globo. Sua última aparição na emissora foi uma participação o humorístico Tá no Ar: A TV na TV, em 2018.

Sem um programa fixo, não é segredo para ninguém, o humorista permaneceu contratado do canal, afinal sempre foi um dos medalhões, daqueles no mesmo nível de Tarcísio Meira, Tony Ramos e Fernanda Montenegro. Renato revela que, mesmo estando na chamada “geladeira” da emissora, tinha e apresentou projetos de programas para seus chefes: “Tenho muitas ideias de programas e apresentei vários para a Globo, mas ficaram na fila. A Globo tinha muitos outros programas para fazer. Então, não adianta muito. Tenho muitos outros programas para fazer, você nem sabe”, explica. Lilian reforça: “Todos os projetos que apareciam para a Globo eram analisados e não tinha como fazer os do Renato. Ele ficou esperando, entregou projetos e a Globo disse ‘calma aí. Vamos ver’”.

Aparecer em outros programas da Globo, como convidado, é algo que foi descartado pelo comediante, que disse recentemente que gostaria de fazer uma participação em A Praça É Nossa, do SBT. “Eu queria fazer o meu programa, não queria estar no programa dos outros. Queria o meu programa. Sempre chamam o Renato pra tudo, mas eu não queria. Eles sabiam que eu queria o meu programa”.

Agora, com a não renovação do contrato, Renato tem a oportunidade de fazer os programas que tem em mente em outros lugares. “Como não aceitaram meus projetos, vou fazer em outros lugares. Mas a Globo disse para não deixar de fazer com eles também”.

Sobre possíveis parecerias com outros canais tradicionais de TV ou plataformas de streaming e de internet, como o Youtube, por exemplo, Renato e Lilian não falam. Mas o trapalhão já vem fazendo vídeos no Instagram e, recentemente, criou um perfil no Twitter. “Estou interessado nas plataformas digitais, elas são muito atraentes e vou realizar projetos com essa turma toda que está me querendo. Ainda não posso falar sobre os projetos, mas estamos namorando [com outras empresas, como as de streaming]. Nós vamos produzir tudo com as nossas empresas. O importante é que estamos bem quistos”.

Renato conta também que ainda não tem planos para a criação de um canal no Youtube. Lilian revela que seu marido “está brincado de internet, entendendo, estudando as plataformas e escrevendo para streaming. Ele quer dar o tiro certo e não arriscar. Mas agora ele está liberado para o Youtube também, coisa que não estava antes. Estamos abertos a propostas”.

TRAPALHÕES
É um dos programas de TV do Brasil mais famosos de todos os tempos, tanto é que a Globo até fez uma nova versão em 2017 com novos atores e a participação de Renato e Dedé Santana. Não deu muito certo e ficou apenas na primeira temporada mesmo. Muita gente não gostou e Aragão mesmo não é muito fã. “A nova versão dos Trapalhões não era o que eu queria. Não dá para substituir os Trapalhões e não dá para trocar os outros dois [Mussum e Zacarias, já mortos]”.

Nessa versão moderninha, jovens atores interpretaram os sobrinhos dos Trapalhões originais, e cada um deles era extremamente parecido com os originais. Renato também comentou isso: “Essa versão ficou meio confusa, por isso não gostei. Não se pode substituir pessoas. Tem que usar outro nome, outras coisas. Não pode fazer isso. Ficou um negócio em dúvida, mas eu fui fazendo”. Lilian volta à conversa e dá seu pitaco: “O Renato fez [o novo Trapalhões] porque era um projeto da Globo, mas o Renato avisou, porque os meninos foram substituídos e não pode fazer isso. Não teve continuação porque a nova geração não aprovou, não. Preferem ver o Didi e o Dedé”.

Nessa nova fase, pós-Globo, estaria inclusa uma possível volta dos Trapalhões, ainda que apenas com Didi e Dedé? Existe a possibilidade de usar esse mesmo nome? “Posso usar o nome dos Trapalhões. Se eu fizer, o Dedé estará comigo onde eu estiver. Somos uma dupla maravilhosa. Todos os meus projetos o Dedé sempre estará incluído. Talvez eu possa usar [o nome dos Tapalhões] se aparecer uma coisa que precise. Mas também posso não usar”. Se rolar um retorno da dupla, Renato diz que para atingir um novo público “teria que renovar, uma renovação. A sociedade avança, é outro estilo. Aliás, não tem piada velha, tem é piada boa”.

CINEMA


Renato também é um homem de cinema e já foi um dos reis das bilheterias brasileiras com seus mais de quarenta filmes lançados desde 1965, com A Pedra do Tesouro, até 2017 com Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo à Hollywood.

E vem mais longa-metragem por aí. “Tenho muita coisa na minha cabeça. O que está previsto é um filme chamado Didi Babá e os Quarenta Ladrões, com a Globo Filmes. A história mostra que o Didi é o babá de muitas crianças. Íamos filmar esse ano, mas com a pandemia tivemos que parar. O plano é retomar esse ano ou em 2021”.

Dentre esse monte de filmes, Renato não consegue eleger um que seja seu favorito: “Filme é como filho, não dá para escolher. Tem Os Saltimbancos Trapalhões, que deu muita bilheteria. O que deu mais bilheteria foi Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão”, conta o comediante.

E se você está entre aqueles que têm vontade de ver os longas do passado, com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, pode ter a esperança de que isso irá acontecer em algum momento no futuro. Lilian conta que “temos todos os filmes remasterizados, prontos para lançar. Agora temos essa liberdade, já que antes estávamos presos à TV. E o Renato não ia passar por cima da Globo. Agora a gente pode colocar nas plataformas e em outras emissoras. São clássicos. Vamos colocar em streaming e esse também foi o intuito de mudar o contrato, pra gente ter mais liberdade. Tenho os filmes em 4k e tem plataformas interessadas neles, mas tudo parou por causa da quarentena. E o Renato não para de escrever, na cabeça, no computador. Ele tem N projetos”.

DOUTOR RENATO

Uma história que incomoda muito ainda Renato e sua família é uma que chegou à mídia há alguns anos em que o humorista foi acusado de arrogante por um suposto motorista. Essa pessoa, que nunca foi encontrada, teria dito que o humorista exigiu ser chamado de “Doutor Renato”.

Isso incomoda tanto a família que o assunto foi trazido à conversa por Lilian. A mulher de Renato pediu ajuda para desmentir essa espécie de fofoca que circula pela internet e redes sociais já há alguns anos. “O Renato nunca falou para ser chamado de Doutor Renato ou Doutor Didi. Nunca fez questão disso. Ele gosta de ser chamado de Didi ou de Renato. Ele sempre esteve perto do público, não tem essa história”. Lenda urbana desmentida, mesmo porque realmente não há comprovação da existência desse tal motorista.

Mas com lenda ou sem lenda, Renato Aragão, Didi Mocó ou o eterno trapalhão está à solta por aí. Sem contrato fixo com a Globo, dá para apostar que o veremos em ação com uma frequência muito maior do que nos últimos anos. Ele saiu da geladeira. Agora é só botar pra quebrar, ô psit!