Brasil

MG confirma primeiro caso de suspeita de coronavírus no Brasil

Agentes de saúde trabalham na investigação do vírus que causa doenças respiratórias, se espalhou por cidades chinesas

Por Uol Notícias 22/01/2020 16h04
MG confirma primeiro caso de suspeita de coronavírus no Brasil
Agentes de saúde investigam o vírus - Foto: Reprodução

A Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais confirmou, na tarde de hoje, a primeira suspeita no Brasil de infecção por coronavírus, responsável por ao menos 17 mortes na China. Segundo a pasta, uma paciente brasileira de 35 anos, que voltou do país asiático para Belo Horizonte no último sábado (18), apresentou sintomas "compatíveis com a doença respiratória viral aguda".

"Tendo em vista o contexto epidemiológico atual do país onde a paciente esteve, foi considerada a hipótese de doença causada pelo novo Coronavírus, que é microorganismo de alerta sanitário internacional, considerando o potencial pandêmico com alto risco à vida e impacto assistencial", diz o comunicado publicado pela secretaria.

Apesar de não apresentar sintomas graves, diz a secretaria, a paciente foi conduzida para o Hospital Eduardo de Menezes.

Segundo a secretaria, a paciente "relatou que não esteve na região de Wunhan [cidade onde foi registrado o primeiro hospedeiro do vírus] e que também não teve contato com pessoa sintomática na China. Os exames capazes de confirmar ou descartar a hipótese diagnóstica encontram-se em andamento em laboratórios de referência".

Para os infectologistas ouvidos pelo UOL, a relativa facilidade de viajar ao exterior cria possibilidades de o vírus chegar ao Brasil.

"Se precisar viajar à China, é preciso evitar a cidade foco e sempre usar máscaras. Os governos devem monitorar as pessoas com quem o infectado entrou em contato. Isso é difícil porque muita gente viaja", explica a médica infectologista Joana D'arc Gonçalves da Silva.

Antes do primeiro caso suspeito ser revelado hoje, o ministério da Saúde afirmou que enviou comunicado à Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) em portos e aeroportos para que viajantes sejam orientados sobre os cuidados em viagens ao exterior, principalmente nos aeroportos com conexões para a China. As secretarias de Saúde de estados e municípios também foram notificados pelo ministério.

O que é o coronavírus?

O coronavírus pertence a uma família viral com alto poder de infectar humanos. Até a descoberta dessa nova cepa, a 2019-nCoV, os cientistas haviam detectado apenas seis delas. A Sars, por exemplo, foi causada por um coronavírus.

"A família do corona recebe esse nome porque tem um envelope com proteínas que parece uma coroa. É uma família porque existem várias espécies dentro dela que infecta humanos e animais", explica a infectologista e professora na Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Nancy Bellei.

O que o coronavírus faz?

Os sintomas variam: pode causar apenas um resfriado, provocar tosse, evoluir para febre forte e dificuldade para respirar. Em seu estado mais grave, leva à morte. A professora explica que, assim como a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave que, entre 2002 e 2003, matou pelo menos 650 pessoas na China e em Hong Kong), o novo coronavírus parece mais letal em idosos e doentes.

"Muitos desses vírus novos não têm uma eficiência de transmissão entre humanos para se estabelecer como um vírus que vai ficar por aí, como o Influenza", diz Nancy. "A Sars foi grave, mas é uma doença que acabou desaparecendo."

Como se transmite o coronavírus?

"O coronavírus é semelhante ao vírus da gripe porque infecta animais, que transmitem o vírus ao ser humano", explica Joana D'arc. "Em seguida, a infecção é de pessoa para pessoa por meio da secreção, tosse, ar e objetos contaminados."

Ela explica que essa nova cepa "pode ser mais agressiva" porque o vírus ainda está se adequando ao organismo humano. "Isso é muito complicado para o tratamento e para a criação de uma vacina."

O que causa o coronavírus?

A nova cepa provavelmente chegou aos humanos por meio de algum animal selvagem, como aconteceu à Sars, transmitida pelo gato-de-algália.

As principais suspeitas recaem sobre morcegos, coelhos, cobras, galinhas e até mamíferos aquáticos. Esses animais são comercializados vivos em um mercado público de Wuhan, de onde as autoridades desconfiam que o vírus tenha saído.

Joana diz que encontrar o animal transmissor "é importante por questões epidemiológicas". "Conhecer o animal é importante para fazer a vigilância ambiental na natureza, em zoológicos e onde as pessoas manipulam alimentos", afirma.

Como se prevenir da infecção pelo coronavírus?

"Geralmente o contato entre pessoas é a forma mais frequente de transmissão", diz Joana. "É comum a gente tocar a boca, o nariz e depois cumprimentar as pessoas."

Por isso, algumas dicas são:

Não entrar em contato com quem sofre de infecções respiratórias

Evitar contato com animais selvagens ou doentes

Lavar as mãos frequentemente -- você pode ter entrado em contato com doentes sem saber

Use álcool gel para limpar a superfície dos móveis e objetos

Como se cuidar em caso de infecção?

Joana recomenda o uso de máscaras cirúrgicas e sua troca a cada duas horas. "Quando tossir ou espirrar, use um papel e o descarte em seguida. As mãos não impedem a dispersão do vírus e o lenço de pano por ser reutilizável", afirma Joana. Ela também pede que o paciente se recolha para evitar contágio e procure ajuda médica.

Segundo a professora da Unifesp, ainda não há um tratamento para a doença, "assim como o resfriado comum também não tem". "Para os pacientes graves, se faz tratamento de suporte: hospitalização, oferta de oxigiênio e UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com ventilação mecânica até que o organismo se livre do vírus. É como a gente faz com a dengue. O importante é procurar rapidamente o sistema de saúde."

Onde surgiu o vírus?

O vírus foi identificado pela primeira vez em Wuhan, uma cidade chinesa com 11 milhões de habitantes. Até agora, 400 pessoas foram infectadas, segundo o último boletim divulgado pelas autoridades chinesas.